Atletismo
Marcelo Gomes, de Campinas (SP) 36d

O retorno de Conceição Geremias: ESPN acompanha a estreia da medalhista pan-americana em competição paralímpica dqw

A história esportiva e de vida da atleta olímpica, Conceição Geremias, 68 anos, a ESPN contou aqui no final de 2024.  2mb3

Ninguém consegue parar Conceição, nem mesmo a perna esquerda amputada e a perna direita ainda com feridas, sequelas de uma cirurgia malsucedida, no ano ado, em Campinas, sua terra natal.

No último 22 de março, Conceição chegou ao Centro Paralímpico Brasileiro (B), na zona sul de São Paulo, com os olhos brilhando e com o astral lá em cima. Foi o dia em que estreou n atletismo paralímpico.

Ela é um dos maiores nomes do atletismo feminino do Brasil no heptatlo. Disputou três Olimpíadas (Moscou 1980, Los Angeles 1984 e Seul 1988), foi campeã pan-americana em 1983 (Caracas) e nove vezes campeã mundial máster.

Essa mesma Conceição continua apaixonada por competir. Ainda de madrugada em Campinas, entrou empolgada na van com destino ao B, em São Paulo, acompanhada por vários atletas das mais "diversas deficiências".

O que não é deficiente é a postura de todos eles, paratletas da Associação Paralímpica de Campinas (APC), um projeto de inclusão bancado pela O+PUC.

Tão animada quanto os novos amigos de competição, Conceição, ainda de cadeira de rodas, brincou com a equipe durante a viagem. Um pedido simples para que olhassem sua prótese provisória, que ela usa com esforço para voltar a andar.

“Estou fazendo uma adaptação. Eles montaram uma prótese provisória até chegar a definitiva, que o pessoal da Carbon 13 se comprometeu em doar. De qualquer forma, já estou conseguindo ficar em pé, claro que com a ajuda de muleta ou andador. A reabilitação está sendo ótima, mas ainda não dá pra eu competir em pé. Nessa volta ás pistas eu vou competir na cadeira de rodas”, disse à ESPN.

“A adaptação não é fácil. Eu ainda tenho que aprimorar o equilíbrio porque eu perdi o membro abaixo do joelho. Agora tenho que aprender a andar de novo. Eu tô treinando o equilíbrio. Portanto ainda não consigo ficar em pé sozinha.”

Mas, para quem luta com toda a força que Conceição tem, competir sem o auxílio da cadeira de rodas é uma questão de poucos meses.

Por enquanto o que ela recebeu na pista de atletismo do B foi a oportunidade de competir, pela primeira vez, no Campeonato Paulista Paralímpico, competição que reuniu dezenas de paraatletas de todo o estado.

Conceição foi para pista, para o setor de lançamento para disputar duas medalhas pela categoria 57 para amputados.

Foram duas horas de prova e.... pra surpresa geral, inclusive dela, conquistou a medalha de ouro no arremesso do peso e a prata no lançamento de disco, perdendo apenas para o fenômeno da modalidade, campeã mundial e paraolímpica, Beth Gomes.

Encantada com o próprio desempenho, Conceição deu mais uma lição, emocionando a nós e a sua treinadora, Letícia Greco. Afinal, a nova Conceição só havia treinado três semanas para a estreia no universo paraolímpico.

Alegria, alegria e alegria

Com uma felicidade genuína, Conceição Geremias afirmou que as duas medalhas são as mais significativas de sua vida.

Falando assim, recordou o dia em que acordou na mesa de cirurgia e recebeu a informação de que tinha tido parte da perna esquerda amputada.

Desde aquele dia, diante de um trauma difícil de ser trabalhado na cabeça de qualquer um de nós, Conceição seguiu o caminho certo, com a promessa de que logo iria se recuperar e voltar a competir, mesmo que fosse numa classe, com atletas fantásticos, muitas vezes desprezados ou tratados como “coitadinhos”.

Conceição não tem isso. Ela tem muita gratidão pela vida, amor pelo esporte e muitas lições para nos ensinar.

Depois das provas e da entrevista, ela nos parou e disse: “Poxa, Marcelo, esqueci de falar. Agora eu preciso de um patrocínio.”

O recado está dado, Conceição Geremias.

Sua história de vida e no esporte merecem um filme. Sua força e determinação merecem o Oscar.

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