Estar atolado em dívidas é quase uma regra vigente do futebol brasileiro, mas não é exclusividade dos clubes do país. Que o diga o Blooming, um dos representantes da Bolívia e adversário de estreia do Santos na CONMEBOL Sudamericana, em partida marcada para esta terça-feira (4), às 21h30 (de Brasília), com transmissão ao vivo pela ESPN no Star+. 4s2g4v
Dono de cinco títulos nacionais, o clube de Santa Cruz de la Sierra costuma até brigar por vagas em competições continentais, embora não tenha tanto sucesso fora de seu país. Mas, nos últimos anos, a principal dificuldade de obter bons resultados não é tanto a falta de jogadores de qualidade, mas sim os imensos problemas financeiros.
Problemas tão grandes que o Blooming, sem recursos para honrar dívidas equivalentes a US$ 3,8 milhões (R$ 19 milhões na cotação atual), precisou em 2018 vender um terreno que pertencia ao clube para amenizar a situação. Chegou-se a convocar uma assembleia para votação de sócios, já que alguns se mostravam contrários à ideia. A rejeição, por sinal, fez surgir uma frase emblemática;
"O mais engraçado é que os que são contra à venda são mais pobres que o Chaves. Esse é o problema", disparou Mario Cronenbold, prefeito de uma das províncias de Santa Cruz e torcedor ilustre do Blooming, em referência ao personagem eternizado pelo comediante mexicano Roberto Bolaños e que fez imenso sucesso no Brasil nas últimas décadas.
A crítica de Cronenbold era direta a torcedores que, segundo ele, só reclamavam e não encontravam soluções para ajudar o Blooming.
"Querem tapar o sol com um dedo. Não é com força que vão corrigir o problema, é pagando o que se deve. No Oriente (Petrolero) faziam o mesmo: a sede não se vende, não aqui, não ali. Quando acordaram, a dívida era maior que o patrimônio e agora a sede não existe", continuou o apaixonado torcedor e também político.
A venda do terreno foi apenas uma das possibilidades planejadas pela diretoria do time boliviano, que chegou a ser proibido de contratar pela Fifa em 2021 por dever US$ 400 mil (R$ 2 milhões) a jogadores, entre eles o brasileiro Felipe Guedes.
A nova diretoria, empossada em setembro de 2021, adotou uma política de pés no chão. Estabeleceu um teto salarial de US$ 100 mil mensais (R$ 506 mil) para os jogadores e não se permitiu gastar mais do que US$ 15 mil (R$ 76 mil) em sua comissão técnica, chefiada pelo argentino Carlos Bustos.
No elenco, são mais de 30 reforços para a temporada, o que faz do Blooming um dos times que mais contratou para o ano. Entre as novidades, estão dois brasileiros (Léo Fenga e Iago Mendonça), ex-atacante do Corinthians Juan Carlos Arce e ainda dois atletas comprados exclusivamente para jogar a Sul-Americana: o zagueiro uruguaio Jonathan Lacerda e o volante venezuelano Arquímedes Figuera.
Mas como um time mergulhado em dívidas consegue contratar tanto? A resposta é dada pelo presidente Sebastián Peña, cujo plano é aproveitar aportes econômicos de empresários para ganhar respiro financeiro, montar um elenco competitivo, ter a possibilidade de disputar torneios maiores e, assim, poder saldar tal investimento.
"Sempre fui claro sobre o que o Blooming teria que viver para sair dessa crise econômica institucional, mas a única forma de fazer isso é que a equipe jogue, seja competitiva e crie expectativa nos torcedores com sucesso esportivo, que neste caso é estar entre os oito melhores times da Bolívia para participar de uma competição internacional", explicou o dirigente, em entrevista à rádio El Deber.
"Estamos tratando de melhorar a confiança e credibilidade da marca Blooming, como também de formar uma equipe que possa ser competitiva para os torneios que vamos encarar. E assim seguimos", completou.
A vaga na Sul-Americana em 2023 vai ser bastante benéfica em termos financeiros. Por estar na fase de grupos, o Blooming terá direito a US$ 900 mil (R$ 4,6 milhões), fora os US$ 100 mil (R$ 506 mil) pagos à Conmebol por vitória. Se conseguir a classificação, que é o objetivo do clube, serão mais US$ 550 mil (R$ 2,8 milhões) em prêmios.
Tudo isso somado a um novo patrocinador máster (a montadora de automóveis Kia) e um novo contrato de fornecimento de material esportivo (Marathon). Paralelamente a isso, o Blooming sonha com a construção de uma arena, que, claro, atrairá novos investimentos. E assim caminha o rival do Santos, em um roteiro conhecido no futebol sul-americano.
"Temos que ser conscientes de que ninguém virá com uma maleta cheia de dinheiro ou com uma varinha mágica para solucionar os problemas, ainda mais em uma instituição como o Blooming, que vive há mais de dez anos em crise", advertiu Sebastián Peña.
Onde assistir a Blooming x Santos? 2e2t3r
Blooming x Santos terá transmissão pela ESPN no Star+ nesta terça-feira (4), às 21h30 (de Brasília), pela 1ª rodada da fase de grupos da Sul-Americana.