No último sábado (25), a DETONA Gaming anunciou a contratação de Machadinhobr como o mais novo streamer da organização.
Figura relevante dentro da comunidade gamer, principalmente no Rainbow Six Siege, Gabriel Machado se destaca também por ser uma personalidade ativa na luta pela inclusão de pessoas com deficiência (PCDs) no cenário de esportes eletrônicos.
Ele é portador de amiotrofia muscular espinhal, doença que, progressivamente, causa atrofia e fraqueza muscular.
“Eu tô muito feliz com a oportunidade. Querendo ou não, é um marco para os PCDs”, comemorou em entrevista exclusiva ao ESPN Esports Brasil. “É a primeira vez que vejo uma organização contratando alguém com deficiência. Uma organização grande, né? Top-10 do Brasil. Fico muito feliz.”
SEJA BEM-VINDO, @Machadinho_br !! Muito prazer ter você com a gente aqui no Canil! pic.twitter.com/Q6YvKn1o2J
— DETONA GAMING (@DETONAgOficial) July 25, 2020
Segundo a releitura do Censo feita pelo IBGE recentemente, Machadinho faz parte dos 12,7 milhões de brasileiros que apresentam algum tipo de deficiência. É uma estatística que representa 6,7% de toda a população brasileira.
Ainda segundo uma pesquisa promovida pelo movimento Web para Todos, menos de 1% dos sites aram em testes de ibilidade para pessoas com deficiência - o que torna mais difícil o uso da internet pela comunidade PCD.
Ou seja, na DETONA, Machadinho acaba contrariando as estatísticas. O público com deficiência não se sente representado nos esports - e ele tem consciência disso. “Espero que daqui pra frente, as outras marcas olhem e queiram apoiar um cenário 100% voltado para a deficiência.”
“Eu trago uma representatividade muito grande, e isso vai influenciar muito mais deficientes que têm medos de entrar no cenário. Isso vai influenciar bastante”, projetou.
Contudo, Gabriel também reforçou que não é apenas sobre “medos de entrar no cenário”. Ele critica a bolha gamer exatamente pela falta de mais políticas inclusivas de pessoas com deficiência. Inclusive, Machadinho revelou que já teve portas fechadas no mercado.
"Eu já sofri hate, do tipo 'Ah, você não merece isso! Você só tem isso porque você é deficiente'”, exemplificou antes de concluir o raciocínio. “Já tentei trabalhar com muitas organizações e teve um certo receio por conta desse hate.”
O streamer entende que parte muito também das empresas a conscientização sobre esse paradigma. Para ele, “a partir do momento que você monta uma fanbase e você é 100% sincero e direto”, as marcas já estão preparando a comunidade gamer à realidade PCD.
“É uma questão tanto de ibilidade quanto também de convívio. Tem aquele preconceito, aquele paradigma que todo deficiente é coitado”, pontuou. “A partir do momento que tiver um deficiente streamer, um deficiente repórter, jogador... Começar a surgir, e espero que surja em breve, vai quebrar muito mais paradigmas. É por conta do convívio social e por essa falta de preparo das pessoas."
Quando a bolha gamer trabalhar esse “convívio social” e assumir uma “falta de preparo das pessoas”, a mescla entre os dois públicos acontecerá sem muitos ruídos na visão de Machadinho. “É mais pelo jeito como você lida com a sua comunidade - porque ela vai abraçar, né?", concluiu.
ROMPENDO BARREIRAS 5j2n1v
Até mesmo pelo protagonismo que assume agora como criador de conteúdo da DETONA, Machadinho quer levar a luta pela inclusão de pessoas com deficiência para outro patamar por meio de “grandes projetos”.
A própria vivência de Gabriel contribui para essa missão. Ano ado, em maio, ele mobilizou uma campanha para adquirir uma nova cadeira de rodas. A ação contou com apoio até mesmo de FalleN, maior nome brasileiro do Counter-Strike: Global Offensive e jogador da MIBR.
Além disso, ele faz parte do movimento “Fallen and Friends”, que é exatamente voltado para a inclusão e capacitação de pessoas com deficiência.
Machadinho entende como faltam incentivos para que o público PCD tenha as mesmas oportunidades no mercado. "Eu quero muito ajudar o próximo. Eu quero muito ajudar as pessoas que não têm condições.”
“Fazer arrecadações para ajudar pessoas que não têm condições para comprar um computador ou até mesmo uma cadeira de rodas. Ou ajudar num tratamento. E fazer isso com frequência”, destacou.
Dessa forma, a bolha gamer a a ter mais nomes que representem a bandeira de PCD - o que é “um sonho desde criança” para Machadinho que, inclusive, citou o streamer Rafinhaa1 e Noizess, jogador profissional de Fortnite, como referências nessa luta.
Ainda de acordo com Gabriel, todo esse trabalho é para um único futuro possível: a profissionalização de pessoas com deficiência no universo gamer. “Sinto que pode ter sim deficientes jogando profissionalmente. O cenário está pronto para ter.”
Machadinho entende que está no lugar certo para romper barreiras. “A DETONA dá oportunidade para outras faixas etárias e outros tipos de pessoas que estão fora do padrão."
Inclusive, o jovem streamer e jogador Zenon, da própria DETONA, foi um dos motivos para que Machadinho fechasse contrato com a organização. “O que me fez querer entrar na DETONA foi o zenon porque eu me inspirei muito nele. Ele traz uma representatividade muito grande para as crianças e para os adolescentes. Então me vi muito nele.”
Em uma posição de maior visibilidade e, claro, de responsabilidade, Machadinho faz questão de reforçar que é uma vitória de toda a comunidade PCD. “Essa é pra vocês. Eu tô lutando pelo nosso espaço. Só tenho a agradecer pelo apoio que vocês sempre me deram e estão me dando."