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OPINIÃO: Eurocopa volta a destacar a prancheta italiana e a deixar os melhores técnicos nos clubes 3627d

Luciano Spalletti durante treino da seleção da Itália para a Eurocopa-2024 EFE/EPA/Daniel Dal Zennaro

Quais são os melhores treinadores de futebol do planeta? Algum deles estará na Eurocopa, que começa agora na Alemanha chamando a atenção quase como se fosse a Copa do Mundo? Pep Guardiola, Carlo Ancelotti, Jürgen Klopp e José Mourinho, entre outros badalados, irão apenas assistir ou comentar o badalado torneio de seleções. Será que farão falta na beira do campo comandando equipes?

Tomando como base a última votação da Fifa com os melhores treinadores do mundo, Luciano Spalletti, o atual técnico da Itália, é o principal comandante na disputa da Euro-2024. Alguém pode dizer que o francês Didier Deschamps seria o melhor, mas talvez nem na França, finalista das últimas duas Copas do Mundo com ele, acreditem que o ex-volante seja um treinador da mais alta prateleira...

Muito do seu sucesso, claro, a por ter um grande número de atletas acima da média, não é à toa que a França é vista como a principal favorita ao título continental neste ano por muita gente. Spalletti ficou apenas atrás de Guardiola na votação mais recente da Fifa para melhor técnico da temporada, e isso se deve bastante ao título do Napoli na temporada ada no Calcio.

E é incrível ver como a Itália continua sendo a pátria da tática, uma referência singular em termos de prancheta no futebol. Não há nacionalidade mais comum entre os técnicos desta Eurocopa do que a italiana. Bélgica (Domenico Tedesco, italiano que virou também alemão), Eslováquia (sco Calzona), Hungria (Marco Rossi) e Turquia (Vincenzo Montella) apostam em treinadores italianos para triunfar na Eurocopa. E é bom lembrar que Sylvinho, brasileiro que dirige a Albânia, bebeu muito na fonte de Roberto Mancini, de quem foi auxiliar.

Tirando os cinco técnicos italianos da Eurocopa, as nacionalidades mais comuns nos bancos de reservas são alemã (Julian Nagelsmann e Ralf Rangnick), espanhola (Luis de la Fuente e Roberto Martínez) e sa (Didier Deschamps e Willy Sagnol), com dois treinadores representados na competição da Uefa.

Mesmo na época em que o futebol italiano estava por baixo, os técnicos forjados no Calcio nunca deixaram de estar na vitrine. Há uma grande valorização ao trabalho tático que é feito na Itália desde sempre. Nesta temporada 2023/24, a Atalanta do veterano Gian Piero Gasperini conquistou de forma brilhante a Europa League em cima do aclamado Bayer Leverkusen de Xabi Alonso, quebrando a invencibilidade do time alemão.

Na Conference League, a Fiorentina de Vincenzo Italiano perdeu a final para o Olympiacos jogando em Atenas (fora de casa) com um gol já no fim da prorrogação. E a forte Inter de Simone Inzaghi talvez só não tenha avançado mais na Champions League porque se empenhou bastante para conquistar a sua segunda estrela no escudo, o sonhado 20º Scudetto italiano.

A Itália voltou a se destacar na Europa já na última Euro, ganhando o título em Wembley quando pouca gente acreditava. Mas em termos de clubes, mesmo inferiorizada em relação a rivais na parte financeira e em estrutura, a terra da pizza mostra-se bastante competitiva, com várias equipes triunfando internacionalmente (a Roma ganhou a Conference League com o "italiano" José Mourinho em um ano e depois foi à final também da Europa League).

Se analisarmos talentos individuais em campo, o Calcio não deve mesmo ser considerado favorito a nada. Faltam craques, aqueles jogadores que de fato são desequilibrantes, na Itália. Mas ela compensa isso com organização e aplicação tática. Não é mais apenas marcação, pois vemos equipes italianas ofensivas, como a Atalanta atual ou mesmo a Itália campeã da última Euro.

A liga nacional que tem mais jogadores nesta Eurocopa é a badalada Premier League, com 114 atletas. O Campeonato Inglês virou símbolo de globalização, mas a Serie A Italiana não fica muito atrás em número de jogadores inscritos no torneio de seleções. São 104 jogadores do Calcio, sendo que 81 desses estão em outras equipes que não a Squadra Azzurra.

Isso representa 16,72% dos atletas de toda a Eurocopa, o que não é pouca coisa. E há 13 jogadores que estão no futebol italiano em divisões menores representando também o Calcio na nobre disputa continental na Alemanha.

O impacto da Itália nesta Eurocopa é inegável. Se o país da Bota não é mais o Eldorado da bola como foi nos anos 80 e 90, não perde relevância nunca em termos táticos. Vários treinadores e jogadores que aram pelo futebol italiano aprenderam e evoluíram com seus conceitos. Deschamps, o técnico que pinta como favorito ao título, foi jogador e treinador da Juventus, por exemplo. A "Velha Senhora", aliás, acaba de contratar Thiago Motta como seu técnico (um brasileiro que virou italiano no aporte e na parte tática).

A Itália deve avançar às oitavas de final da Eurocopa no grupo que tem Espanha e Croácia muito porque, em tese, esses três times deverão vencer a fraca Albânia. Pelo menos em 3º lugar imagino que a Azzurra ficará na chave, tendo assim boas chances de ar de fase. Lembro que a Itália tem uma tradição de complicar para a Alemanha, anfritriã desta Euro assim como foi da Copa do Mundo de 2006, quando veio o tetra italiano com direito a vitória sobre os alemães na semifinal.

O fato de não estar entre os principais candidatos ao título nas casas de apostas não chega a ser bem uma novidade para a Azzurra. Acostumado a ser desacreditado, o Calcio dá aula no futebol, às vezes na parte física, às vezes na parte mental, às vezes na parte técnica, às vezes na parte teatral, e muitas vezes na parte tática.

Certa vez, o lendário Johan Cruyff, maior pensador e frasista da história do futebol, disse: "A Itália não tem como nos vencer, mas nós podemos perder da Itália". Aprendi com o melhor jogador da história da "Laranja Mecânica" a respeitar o Calcio.

Aquela maldita semifinal da Eurocopa-2000 dói até hoje. Que a minha querida seleção da Holanda (comecei a torcer por ela por causa do Milan de Gullit, Van Basten e Rijkaard), pobre hoje na parte ofensiva, desfalcada no meio-campo e tendo só um craque (zagueiro), possa repetir nesta Euro o que a Itália tem de melhor. É a nossa única chance de sucesso.

Boa Eurocopa para todos!