Com agens de destaque no Brasil por Cruzeiro e Fortaleza, Matheus Jussa rumou para o futebol chinês no início do ano para defender o Shangai Port. Logo na primeira temporada, a chance do título no Campeonato Chinês é real, com o time liderando o torneio restando apenas três rodadas para o fim.
"A gente entendeu que o time está muito bem treinado e forte mentalmente e fisicamente, então a gente sabia que poderia brigar pelos títulos, tanto na Copa quanto na liga. E agora na reta final a gente pensa jogo a jogo, a gente vai com calma, estudando os adversários que agora vão vir mais fortes também para atrapalhar e tirar nosso título. A gente tem uma ansiedade, lógico, de logo ser campeão, porque a gente quer levantar esse título de qualquer forma, mas a gente pensa jogo a jogo", contou Jussa ao ESPN.com.br.
Sua adaptação na China foi rápida, com o brasileiro encontrando poucos problemas com o idioma e a cultura completamente diferente. Mas isso se dá, também, pela ajuda de um compatriota muito conhecido: Oscar, ex-meia da seleção brasileira.
"Quando eu cheguei, eu achei que eu fosse sofrer muito com o idioma, mas o Oscar ajudou muito. Então ele me mostrou onde a maioria das pessoas falam inglês, eu não sou fluente, mas um pouquinho a gente consegue desenrolar, pedir uma comida, ir ao mercado e tudo mais. Quando a pessoa também não fala inglês, somente chinês, aí a gente vai na mímica, vai falando (faz os gestos)", afirmou.
"O Oscar é uma pessoa muito humilde. Desde que eu cheguei, ele me apresentou diversos lugares para eu levar minha família, que eu poderia me adaptar e não ficar tão preso aqui no apartamento, porque no começo a gente fica: ‘caramba, o que eu vou fazer? Como vai ser?’ Ele falou: ‘não, vem almoçar comigo’. Ele me levava para conhecer um restaurante, um parque, as pessoas que ele mais convivia aqui na China. Então, o extra-campo com ele ajudou muito dentro de campo. Quando chegava dentro de campo, a gente já conversava sobre a forma de jogar. Mas nem precisava, de tanto que assistia ele jogar", completou.
Mas se engana quem pensa que o ex-meia do Chelsea e da seleção brasileira apenas facilita a vida de Jussa, muitas vezes responsável por marcar o colega nos treinamentos.
"Quando joga contra é complicado, viu? Quando ele está a favor eu fico mais aliviado dentro do treino, mas, quando está contra, é muito difícil de marcar, porque é um jogador muito inteligente, dois os à frente de você. Tem que tomar cuidado nos treinos, estou sempre no mano a mano quando estou contra, eu gosto desses confrontos grandes, mas sempre na amizade", relatou.
Vinicius Jr. como espelho na luta contra o racismo 5m4y62
Além do empenho em campo, Matheus Jussa também tem sido uma voz ativa na luta contra o racismo. E sua motivação vem de muito antes de iniciar a carreira nos gramados.
"Eu sou de uma família bem humilde, fomos nascidos e criados na periferia de São Paulo, desde pequeno a gente já sofre com isso, automaticamente. O sistema nos obriga a correr dobrado, porque a gente vê pela nossa família mesmo, meus pais sempre me falaram que eu tinha que buscar a perfeição para que eu pudesse ser destaque e conseguisse ser jogador profissional, e isso foi o que me levou a ser jogador, porque desde pequeno o meu pai me ensinou que eu tinha que treinar mais, tinha que fazer um pouco mais tanto fisicamente, tecnicamente, em tudo. E nós amos por isso na base, porque tinham muitos atletas muito talentosos e que ficaram para trás, não conseguiram virar profissionais. E hoje sou realizado por ser jogador e por ter a família que eu tenho também, por ter me ajudado a chegar até aqui, por ter treinado mais, por ter me dedicado muito mais com eles", disse.
Uma de suas grandes inspirações nessa luta é Vinicius Jr., astro do Real Madrid e muitas vezes vítima de racismo na Espanha. “É difícil até de explicar para vocês o que a gente a nessa situação, com olhar, com jeitos e tudo mais. Mas eu levanto essa bandeira seja aonde for, seja no Brasil, seja na China, e estou sempre fechado com quem levanta essa bandeira. Se eu asse por uma situação dessa, a gente não sabe qual seria a reação, não julgo a reação do Vini ao ter parado o jogo e ter olhado para a pessoa que fez aquilo”.
“A gente se sente impotente, claro, no momento, mas cada um a por uma situação, é diferente. Na minha situação, não sei o que eu faria também, talvez faria o mesmo que o Vini, talvez partiria para cima de uma pessoa, não sei. A gente se sente meio sozinho, mas a gente nunca está sozinho, nossa família está sempre por perto, nossos amigos estão sempre por perto, nossos verdadeiros amigos”, seguiu.
“Tem pessoas do nosso lado que não sabem o que é essa causa, essa bandeira, essa coisa de racismo, mas acho que de repente vem mesmo dentro de nós, que acho que é deixar as pessoas falarem mesmo, que a opinião dela não pode dizer quem eu sou, ou o que eu faço, então, hoje, por todas as situações que se aram, tanto a do Vini, hoje se uma pessoa me chamar de Macaco, alguma coisa, eu vou olhar para ela, não vou partir para cima porque eu não posso agir agressivamente, não posso bater na pessoa por conta dessa situação”, finalizou.