Neste domingo, a TV Globo reprisará a final do Mundial de Clubes de 2005, entre São Paulo e Liverpool, no Japão.
Na partida histórica, o Tricolor bateu os ingleses por 1 a 0, com gol de Mineiro no e de Aloísio, e sagrou-se tricampeão mundial.
E, mesmo após 15 anos, todo torcedor tricolor se lembra de uma foto emblemática daquele jogo: o carrinho do zagueiro Diego Lugano no meia Steven Gerrard, então grande estrela dos Reds.
A imagem foi imortalizada pelo fotógrafo inglês Martin Rickett, da agência britânica PA Media, e percorreu o mundo após a vitória do São Paulo em Yokohama.
Em entrevista à ESPN, Rickett mostrou-se surpreso com o fato de a imagem ser tão reconhecida no Brasil e disse ter ficado bastante contente com a descoberta.
"Eu não fazia ideia de que a foto era famosa no Brasil. Que coisa fantástica saber disso!", celebrou.
Na conversa com a reportagem, o profissional contou suas memórias do momento em que tirou a foto e falou sobre seu trabalho nos campos.
Além disso, ele exaltou a postura do Tricolor contra os Reds, que chegaram ao Mundial em uma longa série invicta e eram apontados como "favoritaços" ao título.
"Eu fiquei muito impressionado pela forma como o São Paulo nunca se entregou em campo e não teve medo da reputação do Liverpool", afirmou.
Rickett, aliás, não ficou em cima do muro na eterna polêmica: afinal, Lugano merecia ter sido expulso por aquele carrinho?
"Tanto naquele dia quanto hoje, penso que (Lugano) não merecia o cartão vermelho. É claro que Diego quis derrubá-lo, mas não foi um lance perigoso. Para mim, só cartão amarelo", cravou.
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ESPN: Você sabia que sua foto do carrinho de Lugano em Gerrard é muito famosa no Brasil? Muitos dizem que ela é a representação perfeita do que o Mundial de Clubes realmente significa para os sul-americanos...
Martin Rickett: Eu sou um fotógrafo a serviço da agência PA Media na região de Manchester, no noroeste da Inglaterra. Costumo cobrir muito futebol, em particular os jogos de Liverpool, Manchester United e Manchester City. Tive a felicidade de poder viajar ao Japão para cobrir o Mundial de Clubes de 2005, já que o Liverpool havia vencido a Champions League meses antes. (No jogo contra o São Paulo) Foi a primeira vez que fotografei um time brasileiro. Eu não sabia muito sobre o São Paulo, mas sempre adorei assistir aos jogadores brasileiros, tanto na Copa do Mundo quanto na Premier League, então eu estava bastante animado para esta partida. O Liverpool era apontado como favorito no jogo, mas eu fiquei muito impressionado pela forma como o São Paulo nunca se entregou em campo e não teve medo da reputação do Liverpool. É maravilhoso saber que essa foto é conhecida no Brasil. Na Inglaterra, a foto foi mais vista como um sinal da frustração do Liverpool com a partida. É interessante saber como ela é vista a partir da perspectiva brasileira.
ESPN: Qual sua principal lembrança do momento em que tirou essa foto?
MR: Eu adorei trabalhar neste torneio no Japão, e fiquei muito feliz que o Liverpool chegou à final. Eu lembro bem que, neste lance, Steven Gerrard ia iniciar uma arrancada e foi derrubado pelo defensor do São Paulo. Eu sabia que ela ficaria boa, por causa do contraste de expressões entre o Gerrard caindo e o Lugano olhando logo atrás.
ESPN: Mas, quando você viu a foto no visor, achou que ela tinha algo de especial ou, para você, era apenas uma foto comum?
MR: Recordo que a foto foi no início do segundo tempo, e, até ali, era um bom restrato da frustração que o Liverpool estava ando contra uma equipe que a imprensa apontava como um adversário que seria confortavelmente superado. Para falar a verdade, eu não vi nada de especial na foto, mas achei que ela era um bom resumo daquele jogo para o Liverpool.
ESPN: Uma questão que levanta polêmica até hoje é se o Lugano merecia ter sido expulso por esse carrinho. O que você acha, já que viu o lance de perto?
MR: Tanto naquele dia quanto hoje, penso que (Lugano) não merecia o cartão vermelho. A reação de Gerrard claramente mostra que ele sofreu a falta, mas também que tentou aproveitar ao máximo a situação (para convencer o árbitro). É claro que Diego quis derrubá-lo, mas não foi um lance perigoso. Para mim, só cartão amarelo.
ESPN: Você torce para algum time? Estava torcendo para o Liverpool nesta final de Mundial?
MR: Eu sempre torci para o Manchester United a vida toda, e tive toda a sorte de cobrir a equipe em seu período dominante na Inglaterra e na Europa, mas, sempre que trabalho em partidas de futebol, sou totalmente imparcial. Eu não posso nunca acompanhar os jogos com espírito de torcedor, tenho que ser objetivo e focar em capturar a ação dos jogos.
ESPN: De toda forma, você crê que o São Paulo foi o vencedor justo naquele dia ou crê que o Liverpool merecia melhor sorte?
MR: Pela minha memória, o Liverpool foi a equipe com maior presença ofensiva no jogo, teve gols anulados pela arbitragem, acertou a trave e obrigou o goleiro do São Paulo a fazer grandes defesas. Dá para dizer que faltou um pouco de sorte ao Liverpool, mas também deve ser dado crédito ao São Paulo por aguentar firme e aproveitar a chance que teve para marcar.
ESPN: Você foi testemunha de um time brasileiro vencendo um time inglês no Mundial. O que acha do futebol apresentado pelos clubes brasileiros neste torneio? Ainda vê o futebol brasileiro em condições de brigar no mesmo nível com os europeus?
MR: O São Paulo foi o primeiro time brasileiro que fotografei na carreira. Eu adoro ver clubes brasileiros e sul-americanos em geral jogando. Tive o privilégio de cobrir o Brasil na Copa do Mundo de 2010, na África do Sul, e também muitos atletas brasileiros que atuam na Europa. Acho que as equipes (brasileiras) continuam cheias de jogadores talentosos, mas creio que o timing do Mundial de Clubes muitas vezes pode ser problemático para elas.
ESPN: Como um inglês, qual sua opinião sobre o Mundial de Clubes? Você enxerga o torneio como importante ou vê a competição de forma mais amistosa?
MR: Eu adoro a Copa do Mundo, quando as nações de todo o planeta se enfrentam, e creio que o Mundial de Clubes captura um pouco disso em nível internacional de clubes. Creio que os clubes ingleses de fato veem a competição mais como um torneio amistoso, mas isso é extremamente perigoso para eles, já que todas as outras equipes vão querer fazer de tudo para vencê-los.
ESPN: Como fotógrafo esportivo, o que só você vê que os espectadores normais não veem ali da beirada do campo?
MR: Minha visão de um jogo de futebol é diferente da de qualquer torcedor acompanhando a partida da arquibancada ou pela televisão. Eu fico sentado entre a bandeirinha de escanteio e o gol. Tenho duas câmeras, uma com lente longa, que uso para capturar a ação no meio-campo e do outro lado do campo, e uma lente com zoom para focar na expressão facial dos jogadores e nas comemorações de gols. Eu mudo constantemente de uma câmera para a outra enquanto sigo a jogada. Fico sempre focado em onde está a bola, então eu raramente vejo a bola entrando no gol de fato. Quando vejo algum jogador chutando, eu só sei o que aconteceu depois pela reação dos jogadores e da torcida. É uma maneira bem diferente de assistir a um jogo de futebol.