"O Fortaleza está perto de fazer história". É exatamente com esse pensamento que o time chega para a final da CONMEBOL Sul-Americana contra a LDU, neste sábado (28), no Uruguai, em duelo com transmissão pela ESPN no Star+.
O pensamento poderia ser de vários jogadores ou torcedores do Tricolor, mas na verdade é de João Ricardo. O goleiro, um dos destaques da campanha do Laion, concedeu entrevista exclusiva ao ESPN.com.br e não escondeu a ansiedade que enfrenta a tão poucos dias para a decisão.
"Está sendo um ano mágico que o clube está vivendo. A gente vem de uma campanha linda na Sul-Americana. No Brasileirão também a gente vai muito bem. E é natural a ansiedade agora. A expectativa criada por todo o mundo, não só por nós no clube, né? Acho que o Brasil inteiro está em uma expectativa muito grande em cima da nossa equipe com um possível título. Então, isso traz uma ansiedade muito legal. O ambiente no clube é muito bom, muito saudável. É uma ansiedade natural. Acho que só vai ar quando chegar o dia do jogo".
Com 35 anos e títulos durante suas agens por clubes como América-MG, Chapecoense e Ceará, João Ricardo está tão concentrado no confronto de sábado, que não tem dúvidas que essa será "a partida mais importante da vida".
"É um jogo que a gente não está acostumado a jogar, né? Confesso que dá aquele friozinho na barriga, sim. E não só por ser uma final. No segundo jogo contra o Corinthians, também era um jogo muito decisivo. Era um dos maiores jogos da história do clube também. Querendo ou não, você cria uma expectativa, uma ansiedade e isso gera um friozinho na barriga. Mas é natural. Nós atletas amos muito por isso em outras finais de estaduais, em outros campeonatos. É uma coisa natural, mas quando começa o jogo, você já está focado na partida. E esse friozinho, essa ansiedade, acabam indo embora. Para muito dos jogadores, esse é o jogo mais importante da carreira. Pra mim, particularmente, é o jogo mais importante da minha carreira. É um momento histórico para o clube, para o jogador, para o torcedor. Ninguém quer ficar de fora. Mas a gente está bem preparado".
Se o jogador, nascido no Rio Grande do Sul, e que chegou ao Fortaleza no início de 2023, já vive tamanha expectativa, imagine o torcedor, que menos de dez anos atrás, sofria com o time na terceira divisão do futebol brasileiro e que agora pode ver o clube do coração se tornar o primeiro nordestino a ser campeão de um título continental.
"O apoio e carinho que o torcedor está mostrando com a gente é de uma grandeza enorme e isso não dá nem para falar como uma pressão. Eu acho que isso a uma tranquilidade muito grande para nós, para a comissão técnica, para quem está envolvido. Eu acho que você vê que a torcida confia no time, então dá uma leveza de alma, um sentimento de tranquilidade muito grande para um jogo como esse. Nesses últimos dias, quando a gente estava na rua, o torcedor vinha, abraçava e comentava sobre o jogo. Disseram que a cidade vai parar. A cidade e os torcedores estão bem mobilizados. Mas a gente tem que ter o pé no chão, a gente conquistou a vaga na final, mas o título ainda não. É jogo único, tudo pode acontecer".
O fato da final ser disputada em jogo único, aliás, é algo que desagrada João Ricardo. O atleta não esconde que uma decisão com o jogo de ida no Equador e a volta no Brasil, já que o Fortaleza fez melhor campanha na fase de grupos, seria um cenário ainda mais especial.
João Ricardo citou a festa que torcida faria se partida decisiva acontecesse no Castelão
"Eu, particularmente, acho que seria melhor uma final de ida e volta. Um jogo é difícil, né? Às vezes tem um detalhe ou outro, pode acontecer alguma coisa e não dá tempo de reverter o placar. Em dois jogos já é diferente, né? Então, eu acredito que jogo de ida e volta seja melhor, favorece um pouco mais as duas equipes, e também as torcidas. Cara, imagina a festa que a torcida não ia fazer jogando o jogo decisivo no Castelão lotado, com apoio de todo mundo? Eu acho que não dá nem pra imaginar a festa que o torcedor ia fazer se fosse uma final dentro de casa", explicou. Questionado sobre o fato de o Fortaleza "ter se livrado" da altitude de Quito com o fato do jogo ser no Equador e não na casa da LDU, o goleiro concordou, mas não mudou seu pensamento.
"Isso é verdade, né? Eu já joguei na altitude dois ou três jogos. A dificuldade é muito grande, né? As equipes praticamente demoram de 20 a 30 minutos para se adaptar ao clima. E à essa altura você pode estar perdendo por um ou 2 a 0. Mas ainda assim, mesmo com essas adversidades, eu sou à favor de jogo de ida e volta. Eu acho que fica mais bonito o espetáculo".
'Vojvoda é uma pessoa espetacular. Tem tudo para ser um dos grandes treinadores que aram pelo Brasil' 302e49
A ascensão do Fortaleza não começou com Juan Pablo Vojvoda. Foi com Rogério Ceni no comando que a equipe foi campeã da Série B, em 2018, e iniciou seu período de dominância no estado do Ceará e também na região Nordeste. Foi com o argentino, porém, que o Tricolor ultraou barreiras. Foi com ele que o time disputou a Libertadores pela primeira vez em sua história, em 2022, depois de terminar o Brasileirão na 4ª posição no ano anterior.
E se na principal competição do continente o time já fez história, ao ar a fase de grupos e ser eliminado apenas nas oitavas de final, na Sul-Americana, a campanha em 2023 é inesquecível. Segundo time com melhor campanha nos grupos, o Laion eliminou em sequência Libertad, América-MG e Corinthians para chegar à final.
Segundo João Ricardo, esse sucesso é muito por conta de Vojvoda. De acordo com o goleiro, o técnico não é bom "apenas" no campo, como também fora dele.
Técnico argentino faz um excelente trabalho no Fortaleza nos últimos anos
"Ele é uma pessoa espetacular, além de ser um baita profissional, um baita treinador, é um cara muito inteligente. Um ser humano fantástico. Ele transmite confiança para todo mundo, não só jogadores. Muitas vezes se vê treinadores que deixam o funcionário de lado, mas ele trata todo mundo com o mesmo respeito, com o mesmo carinho. E isso faz com que todo mundo goste dele. Todos os funcionários têm um carinho muito especial e isso acaba tornando um ambiente muito leve dentro do clube. Então você chega lá e se sente bem. E ele acredita no elenco que tem. Ele a muita segurança, além de ser muito estrategista. Todo jogo ele tem uma estratégia diferente. O time também acredita muito no que ele pensa e os frutos estão sendo colhidos. Acho que por isso que ele não saiu do Fortaleza. Ele acredita muito no projeto e o elenco acredita muito no projeto dele. Então ele tem tudo para ser um dos grandes treinadores que aram no Brasil. No Fortaleza acho que já é, mas pode ser um dos grandes treinadores estrangeiros que aram aqui pelo Brasil".
Na entrevista, João Ricardo contou também sobre a experiência de trocar o Ceará pelo Fortaleza, os planos para a carreira, revelou a sua maior inspiração no futebol, entre outros assuntos.
ESPN: Você trocou o Ceará diretamente pelo maior rival, o Fortaleza. Enfrentou resistência por parte dos torcedores dos dois clubes?
João Ricardo: Sabe como é rede social, né?! Às vezes você é atacado e eu fui um pouco atacado pela saída do Ceará, mas por outro lado, eu fui muito bem recebido pela torcida de Fortaleza. O que o torcedor do Fortaleza fez comigo quando eu cheguei foi algo que eu não vou esquecer. Eles me abraçaram muito, me acolheram muito. Então eu fui muito bem recebido aqui e isso me ou muito tranquilidade. Como eu tinha vindo do rival, eles tinham tudo para contestar a minha contratação. E foi ao contrário. Eles me apoiaram, me abraçaram, me deram muita tranquilidade e hoje eu posso dizer que eu estou muito feliz pela escolha que eu fiz. Estou muito feliz com o ambiente, com o clube, com tudo o que estou vivendo aqui no Fortaleza. Acho que é um momento mágico. Foi difícil no início, não dá para negar que foi, mas hoje eu estou muito feliz. E quero seguir aqui por muitos e muitos anos.
ESPN: Então dá para dizer que pretende se aposentar no Fortaleza?
João Ricardo: Eu estou com 35 anos, então devo jogar futebol por mais uns três ou quatro anos. Não dá para cravar. Tem que ver se meu corpo vai estar respondendo à altura, se vou conseguir estar sem lesões. Se eu tiver em alto nível, a expectativa de ficar no Fortaleza é gigantesca. É um clube muito organizado financeiramente, não atrasa salários. Tudo o que eles se comprometem, eles cumprem. A cidade é muito boa. A torcida também abraça todo mundo, faz uma festa melhor que a outra. Então é um clube que está crescendo aos pouquinhos, vai evoluindo cada dia mais e a expectativa é brigar na parte de cima de todas competições que disputa.
ESPN: Você chegou no início do ano e tomou conta da posição, mesmo com o Fernando Miguel tendo feito uma boa temporada no ano ado. Como é a concorrência entre vocês? Existe algum tipo de rivalidade?
João Ricardo: É uma disputa sadia, não só com o Fernando, com o Maurício e o Bruno também. A gente tenta manter sempre um ambiente muito saudável. Goleiro é uma posição difícil, então você tem que tentar manter a tranquilidade sempre, manter um ambiente bom. Quando ele estava jogando, eu torcia muito por ele. Acredito que agora que eu estou jogando, ele torce muito por mim. O Maurício não é diferente. A gente conversa muito durante os treinos, tenta se ajudar da melhor maneira possível. Nos pênaltis, ele ajuda muito. Se ele já jogou com algum jogador, fala onde esse cara costuma bater. É a primeira vez que a gente trabalha junto, mas é um clima muito saudável.
Goleiro do Fortaleza citou nomes de atletas em quem se espelha para brilhar em campo
ESPN: Quem é a sua grande inspiração no futebol?
João Ricardo: Cara, eu digo que eu cresci assistindo o Rogério Ceni jogar. Um pouquinho do Taffarel também, mas a minha grande referência é o Rogério Ceni. Tem o Fábio, do Fluminense, também é um cara espetacular. Sou fã do Fábio também, um cara fantástico, hoje com mais de 40 anos e continua fazendo os jogos que ele vem fazendo. É uma inspiração para muita gente aí. Tenho muito orgulho de ter jogado contra o Fábio.
ESPN: Tendo o Rogério como ídolo, nunca pensou em bater faltas ou pênaltis?
João Ricardo: Por incrível que pareça, eu nunca tive o desejo de treinar falta. Pênalti a gente até arrisca em treinos. Mas é uma coisa que tem que ter o dom. Não adianta ir bater falta e perder. Eu nunca bati pênaltis na minha vida em um jogo oficial, não sei como é que vai ser. Então eu deixo mais para jogador que for centroavante, geralmente é mais acostumado, treina todos os dias. Eu acho que é uma responsabilidade mais deles do que minha.
ESPN: Já tendo atuado em times de Sul e Sudeste, considera mais difícil disputar o Brasileirão por um time do Nordeste?
João Ricardo: Com certeza. As viagens longas, o desgaste é muito grande, né? Quando temos duas partidas fora, a gente fica a semana inteira longe de casa. No início da competição, você consegue levar, mas vai chegando um ponto que o desgaste começa a bater. Querendo ou não, de Fortaleza a São Paulo, são 03h30 para vim, mais 03h30 para voltar. Já os times daqui os voos são de 1 hora. Então, o desgaste dos atletas é muito menor, né? Mas a gente tem muito cuidado, tem um departamento de fisiologia que nos acompanha diariamente. Mas nós temos que nos cuidar muito mais.
Onde assistir a Fortaleza x LDU? 221v3k
A final da CONMEBOL Sul-Americana, em 28 de outubro, terá transmissão ao vivo pela ESPN no Star+.